Linha muda

sábado, julho 22, 2017



Desculpa te ligar tão tarde, mas é que eu consegui descobrir. É, eu descobri o que me mantém tão presa a você.
São esses seus olhos que nunca se decidem entre o mel e o oliva. Olhos que brilham quando encontram os meus e que me contam seus segredos mais sinceros.
Talvez você seja uma espécie de medusa, que quando me encara, me petrifica. 
Você vai me entender quando disser que esses seus olhos são a minha kriptonita, essas comparações patéticas parecem tão adequadas.
Sei que é tarde demais, mas só me escuta então, em silêncio e me deixa dizer tudo o que está preso na minha garganta, me deixa ser patética só mais uma vez.
Eu não deveria te contar mais nada, talvez a distância fosse a única cura certa para tudo, mas quando se trata de você, minha força parece pequena demais para conseguir ficar tão longe assim.
E me perdoa se quando você estava chorando eu não disse que te amava. Você precisava saber disso naquele momento, mas eu tive medo. Eu ainda tenho medo.
Se for possível, deixe as lágrimas para mim. Eu sou forte, juro que sou, posso suportar qualquer coisa para te ver bem. É pouco, eu sei, mas é tudo que eu posso oferecer.
Você ainda está aí? Não do outro lado da linha, isso eu sei que está, posso reconhecer sua respiração pesada em qualquer lugar. Quero saber se você ainda quer o mesmo que eu, se você em algum momento já quis.
As vezes seus olhos me confundem entre o sim e o não. Tudo parece se misturar em medo.
Desculpa novamente por te ligar tão tarde, talvez até tarde demais para dizer tudo isso. Eu deveria ter deixado um recado na caixa postal, você provavelmente nunca ouviria e essas palavras ficariam perdidas para sempre, mas não dava, eu precisava dizer em voz alta para poder me libertar.
O seu perfume ficou preso em algumas roupas, eu ainda uso elas para dormir, só para dar a sensação de que você está por perto. Você sempre está por perto, fez morada no meu coração.
E as suas últimas palavras ainda ecoam pelo apartamento, ou talvez só dentro da minha cabeça. 
Mas agora eu preciso desligar, antes que eu perca a cabeça. Você imagina como é difícil? Se eu fecho meus olhos eu vejo os seus, se eu abro e não te encontro, tudo parece desmoronar.
Sabe, era por isso que eu não queria me aproximar, eu sabia que era inevitável te amar. Eu deveria ter me mantido afastada, mas você me conhece, eu faço tudo errado.
Eu preciso mesmo desligar e talvez caminhar por aí para desfazer o nó que me impede de respirar.
Promete que você vai ficar bem? Mas não tão bem assim?

Desculpa ter te ligado tão tarde, tão tarde demais.

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