Capitu.

quinta-feira, agosto 10, 2017



Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular.
- Machado de Assis.

Essa é uma das simplórias descrições que Bentinho faz sobre Capitu, a dona dos olhos de ressaca. 
Devo admitir que de toda a literatura, essa é realmente a história que mais me desperta amor. 
Todas as suas construções linguísticas de um português elegante e suas figuras de linguagens, somados aos superlativos de um dos personagens, tornam essa obra um deleite a parte.
A trama deixa um tom de por-do-sol em cada uma das suas páginas, trazendo lembranças de uma adolescência repleta do deletei e do desperta de cada um dos mais intensos e inesperados sentimentos.

Machado de Assis foi um autor bem a frente do seu tempo, não consigo lembrar um livro de sua obra que não me fez, ao menos, pensar um pouco mais sobre minhas próprias convicções. 
Atual, suas frases nada convencionais ditam um futuro que são nossos dias atuais.
De fato, Assis e seu Realismo surpreendente, foi essencial para uma transição necessária de uma fase repleta de donzelas brancas demais e chatas demais, para amores tão imperfeitos quanto os que vivemos por aí.

Dom Casmurro, então, traz esse amor tão intenso entre dois jovens e as consequências dessa quebra de paradigmas do amor romântico.
Bentinho era um louco, obcecado por Capitu e tudo o que a cercava. Ciumento, inseguro, um homem pela metade que  nunca precisou crescer. 
Capitu era muito mais forte do que qualquer mulher deveria ser naqueles padrões, sabia manipular, seduzir, encantar. Era o próprio diabo em um vestido bonito, com olhos de cigana oblíqua e dissimulada. 

Hoje vejo que todos nós somos um pouco de cada um desses personagens, perdidos entre sentimentos nada equilibrados que nos tornam animais, prontos para o ataque ou prontos para se entregar ao predador.
Mas de uma coisa eu tenho certeza, Capitu jamais traiu Bentinho, existem tantas e tantas provas que poderia discorrer uma vida e ainda não traria todos os argumentos que mantém minha personagem favorita da ficção protegida de todos os insultos que lhe lançam por esse infeliz homem que somente a amou demais.

Felizmente, somente um argumento consegue expressar o que quero dizer.

Bentinho narra uma história inteira sobre a sua vida e suas consequências, porém, apenas tratando de seu limitado e influenciado ponto de vista. São suas percepções, emoções e loucuras que vem a tona em cada uma das sofridas palavras que compõe o livro.
E a realidade, meus caros, não pode ser definida por nossa forma de enxergar o mundo. Estamos todos fadados a prisão de nossos próprios pensamentos, nossas percepções estão todas torpes e embriagada de sentimentos que nos tiram do real.

E ao contar a nossa história, todos somos assim como Bentinho, simples reféns de algo que somente nós presenciamos. 

Mas Capitu não. Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular.

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